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Estudo de um conceito - SUSTENTABILIDADE

 

1.Introdução

Este artigo propõe-se a reflectir sobre o conceito de sustentabilidade. Numa altura em que o mundo e as sociedades Modernas enfrentam tantos desafios a nível económico, ambiental, social, cultural, político; numa altura em que acredito que a mentalidade Moderna, herdeira do legado de ideias e de factos históricos subsequentes às Revoluções Industrial e Francesa, começa cada vez mais a ser posta em causa e a mostrar a sua corruptibilidade ante os sérios problemas de ingovernabilidade, falta de ética e às sérias assimetrias sociais e à degradação ambiental, torna-se cada vez mais emergente acções e iniciativas em favor da ruptura e da definição de percursos de governação e de organização político-social alternativos capazes de se imporem ao modelo do imperialismo capitalista e economicista e à mentalidade tecnicista, mecânica, anónima e desumanizada que domina o mundo.

 

É face a esta conjuntura de insustentabilidade generalizada, que atravessa corrosivamente as várias áreas da vida moderna e que ameaça a própria vida planetária, que precisamos de encontrar alternativas de governância e de organização social, política e económica que mostrem novos caminhos para uma vida sustentável, em equidade e em respeito pelos outros e pelo meio-ambiente. Foi, neste âmbito, que pensei na possibilidade de concretização de um projecto que consiga oferecer alternativas ao despotismo institucionalizado e às normas convencionais, implementando valores que nos reencaminhem para os salutares valores de partilha, troca, de vizinhança, de diversidade, multiculturalidade e de democracia efectiva, isenta e justa.

Aqui pretendo analisar o conceito de sustentabilidade, uma vez que considero ser absolutamente urgente que lhe devotemos toda a nossa atenção e esforço, uma vez que é nele que acredito residir a resposta para a estruturação de uma vida mais humana, solidária e com futuro. Para esse fim, abordarei o conceito de sustentabilidade sob o ponto de vista da sua aplicabilidade aos domínios ambiental, social, económico, financeiro, político, territorial, cultural e do conhecimento.

Acredito, convictamente, na implementação de micros sistemas que demonstrem caminhos económicos, sociopolíticos e culturais alternativos capazes de demonstrar o quanto é possível, com perseverança e determinação, conquistar o bem-estar social e a sustentabilidade nos vários campos da vida a partir de iniciativas empreendedoras e com base em atitudes de entreajuda e solidariedade.

2. A luta na História pelo conceito de sustentabilidade

Embora o século XXI, nos tenha trazido uma consciência inflamada pela causa da insustentabilidade, a reflexão não é contemporânea e já Stuart-Mill no século XIX, em face das céleres e abruptas transformações que observou na sociedade Moderna do seu tempo, provenientes da industrialização e de toda a série de revoluções que lhe estão inerentes. Stuart Mill evidenciou uma incrível clareza de espírito ao perceber a situação de insustentabilidade que aguardaria as gerações futuras e de que nós, agora, somos testemunhas vivas. No século XX, já na nossa geração, os efeitos nocivos da ordem económica instituída, a insustentabilidade generalizada e as suas consequências, nomeadamente a nível social, dão azo, sobretudo por parte dos jovens estudantes, a agitações sociais um pouco por todo o mundo, registadas na memória como o Maio de 1968 em França, o Maio de 1969 em Itália e também, nos dois primeiros anos da década de setenta, nos Estados Unidos da América, a insurreição, aqui agravada, contra a discriminação étnica.

É cronologicamente no seguimento destas sublevações de descontentamento que, em 1972, tem início o ciclo de conferências e de cimeiras para discussão das questões da sustentabilidade, nomeadamente da sustentabilidade ambiental. A questão do Ecodesenvolvimento e da necessidade e da importância de um novo paradigma de desenvolvimento é assim lançada, pela primeira vez, em Estocolmo, por Ignacy Sachs em 1972. Contudo, o próprio conceito de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável é apenas introduzido e reconhecido mais tarde, a partir de 1987, altura em o relatório de Brundtland, intitulado por "O nosso futuro comum," chama a atenção para a questão da importância da preservação ambiental e do desenvolvimento sem esgotar os recursos naturais não renováveis e sem comprometer a vida das gerações futuras. É preciso, antes de tudo, despirmo-nos da arrogância egocêntrica e antropocêntrica que tem permitido o esgotamento dos recursos do planeta como se e apenas bastasse o que é de uso para a satisfação da vida presente. As cimeiras da Terra em 1992 no Rio de Janeiro e em 2002 em Joanesburgo assinalam mais dois momentos do percurso pela afirmação do conceito de sustentabilidade. Em Joanesburgo foi especialmente relevante o facto de a concepção inicial e restritiva do conceito de sustentabilidade, ter sido alargada aos aspectos económicos e sociais. Assim, o conceito de sustentabilidade deixa de ser apenas direccionado à avaliação dos princípios e acções que estabelecem a nossa relação com a natureza, mas também passa a designar e abranger a forma como gerimos o crescimento económico e como lidamos com os problemas sociais. A partir de 2002 o conceito abrange três desafios basilares: o ambiental, o económico e o de coesão social.

Fica-me o sentimento por tudo o que ainda tem de ser feito numa luta que, e não obstante a emergência, ainda está longe de alcançar os frutos necessários para garantir uma vida sustentável na Terra e de que a última cimeira, em Copenhaga, é um triste exemplo ao ver os seus objectivos submergir novamente sob o jugo dos interesses economicistas... e contra a humanidade.

4. O conceito de sustentabilidade hoje e as suas áreas de aplicação

Proponho a breve reflexão e avaliação da possibilidade de realização de uma pequena micro célula, onde se possa exemplificar um modelo de vida alternativo, sustentável e integrado através da aplicação global do conceito de sustentabilidade aos sete domínios da vida que considerei atrás e que passarei a enunciar sucintamente de seguida.

4.1. Aspecto ambiental: Para responder ao desafio ambiental colocado no nosso século, pensei em conceber uma estrutura física e arquitectónica o mais sustentável possível: um edifício construído com materiais recicláveis, nomeadamente em madeira certificada e indicada para o efeito, palha ou outros materiais reciclados, com fontes de energia recicláveis como a solar, eventualmente a eólica, e a geotérmica. A diversidade das fontes da energia será para que possam cobrir todas as necessidades energéticas, mas também para que possam servir de exemplo para outros empreendimentos e construções particulares e / ou públicas. Concomitantemente, pensei também em estudar e informar-me sobre técnicas para a recolha da água da chuva para que possa ser reutilizada e evitar o desperdício de água potável. A água da chuva poderá ser reaproveitada para as casas de banho, para rega e limpeza.

Interessa, porém, para além do exemplo em prática, educar e esclarecer as pessoas sobre este tema e a importância de mudarmos os nossos comportamentos, consciencializando-as para o problema ambiental e para as acções de destruição da vida. Tentaremos, desta forma reduzir tratar e reconverter o lixo em energia ou em fontes de enriquecimento do solo, reduzir todo o desperdício e não contribuir para os processos de desmatamento e de poluição agressiva que estão na composição química da maioria dos produtos que utilizamos diariamente. Existem procedimentos simples que estão ao alcance de todos nós e que poderiam começar pouco a pouco a ser introduzidos no nosso dia-a-dia.

4.2. Aspecto social: passa por incentivar as relações de vizinhança e a interacção intergeracional, promovendo actividades onde todos participem e se ajudem mutuamente. Nomeadamente, a partir das actividades feitas para pais e filhos ou avós e netos com a finalidade de estimular as relações familiares e de colocar os mais novos a partilhar e a conhecer os saberes dos mais velhos. Da mesma forma, os mais velhos sentir-se-iam reintegrados e úteis, participando em actividades sociais.

4.3. Aspecto económico: A crise mundial em que vivemos foi um indubitável anúncio da insustentabilidade económico-financeira que está institucionalizada em grande parte das democracias mundiais. Uma economia de mercado gerada e mantida em torno de uma corrida desenfreada aos mercados e de um impulso competitivo compulsivo e sem ética pela acumulação de capital, alheio a qualquer responsabilidade social e propulsionador de assimetrias.

Seria desejável uma perspectiva economicamente sustentável e socialmente responsável, que promova a igualdade de oportunidades de modo a que todas as pessoas não tenham qualquer limitação de participação e experimentem uma economia de vizinhança, de entreajuda e de reciprocidade não equivalente, entre si.

4.4. Aspecto político: institucionalmente, faria sentido uma cooperativa com uma política de gestão democrática e participativa, partilhada e integrada. Uma política sustentável é uma política de grupo, liderada para o todo e com consciência da responsabilidade que gere.

4.5. Aspecto territorial: A atenção à implementação destes focos de vida fora das grandes metrópoles beneficiará as populações e públicos que normalmente têm maiores dificuldades e limites no acesso a oportunidades e à oferta de serviços, contribuindo para o desenvolvimento local dessas zonas.

4.6. Aspecto cultural: no que diz respeito à sustentabilidade cultural, o projecto antepor-se-á aos valores de homogeneização, uniformização e de padronização. Incentiva e dá a conhecer a diversidade, a multi e interdisciplinaridade, o diálogo intercultural, os costumes e os saberes antigos.

4.7.  Aspecto do conhecimento: para a própria sustentabilidade e certeza de que, no projecto, a articulação de todas as suas áreas, actividades e suas formas de aplicação e de abordagem, estão correctas e cumprem os objectivos a que se propõem, é fundamental um posicionamento crítico permanente para reavaliação de todas as concepções e acções, de modo a se poder, sempre, melhorar, rectificar e garantir o sucesso e a sustentabilidade do projecto.

5. Conclusão

A sustentabilidade é um conceito transversal e aplicável a vários domínios. O facto de lograr de reconhecimento político e de mobilizar, cada vez mais, civis é sem dúvida um aspecto positivo e manifesta uma força de mudança por parte de uma fatia da população, porém, sabemos o quanto todos estes gestos são insuficientes e quanto todas as discussões e conferências têm sido no plano da experiência prática muito pouco expressivas. Apesar do reconhecimento político ter sido benéfico para a sensibilização de muitas questões, tem, também, sido sempre denominador comum a falta de vontade por parte do poder político para empreender soluções. Não sabemos se um dia veremos os líderes políticos europeus e norte-americano a renunciarem aos seus tendenciosos interesses economicistas e a implantar, com visível prioridade, políticas e, sobretudo, acções sustentáveis em detrimento dos compromissos vigentes, isto para não mencionar o perigo que representa as formas de emergência inconsequente dos BRIC.

Posso apenas deixar aqui o sentimento pela importância de cada um de nós se esforçar por deixar um contributo a partir de uma só atitude que seja.

Autor: Emídio Ferra, em 27/06/2011

 

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